A VIDA SEGUE, EU E DONA HEMOFILIA

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Dona Hemofilia E Eu, E A Chegada da Tia Artrose


Seguindo em Frente

 Eu com a dona hemofilia vivemos assim. Meio amor e ódio? Não, não posso dizer que a amo, nem que a odeio, convivemos. Aprendi algumas coisas com ela, entre elas tentar tirar ou ver algo bom Em Tudo.


Vivendo... tempestades a vista...




 E nossos primeiros dias juntos foram assim como já contei, fases de tréguas entre as hemorragias, as hemorragias e as corridas malucas por conta destas Hemos.

Mas quando me perguntam qual a minha lembrança da minha infância  (já pensando que vou dizer que foi difícil viver ao lado da dona hemofilia) digo que vivo intensamente. Crio histórias engraçadas das coisas difíceis e guardo as boas, valorizo mais as vitórias, porque embora turbulências dificultaram, venci.

E na sétima série, tinha aprendido a conviver bem com dona hemofilia.  Íamos fazer bodas de plasma.

 
As vezes deitava pra dormir, isso desde os 5 anos, meio da madrugada eu acordava com uma sensação estranha. Era mais um pressentimento. Não conseguia mais dormir. Algumas poucas horas e a articulação ficava travada, e vinha uma dorzinha que ia aumentando.
Aumentando até ficar muito forte. E se fosse tornozelo era uma semana sem andar. Aprendi a fazer algumas tarefas básicas com  a mão esquerda, porque se fosse  ombro ou cotovelo direito, não conseguia esticar, nem usar ele pra pentear cabelo ou escovar dentes por exemplo.

Tinha uma hemo que dava no dedinho do pé, na adolescência dona Hemofilia deu muitas tréguas, mas sempre dava uma manchinha aqui e ali, alguma hemo no dedo da mão, mas tirando as que me impediam de andar, apesar da dor eu me dava bem com as demais, e muitas a dor era aceitável, cotovelo era mais doido, eu tinha dificuldade pra dormir. Grave era joelho e tornozelo. Mas nessas folgas que dona hemofilia dava, tinha uma que era característica... hemo no dedinho do pé, ou no dedão.





 Acho que a um complô interplanetário contra os dedinhos dos hemofílicos, orquestrado pelos móveis e quinas.... eu vivia batendo o dedão, parece simples... só que ele dobrava de tamanho, e inchava a parte debaixo, então pisar como?





 Parecia que aquela junção do ossinho do dedão que ligava ele no pé deslocava(a típica dorzinha de ponta de osso). Calçar o sapato era dolorido, você custava a calça-los, mas parecia que uma vez calçado, imobilizava e a dor de pisar diminuía. Só que ficava pisando de lado, ai dava aquela dorzinha de lado do pé. Mas foram tantas, que acostumei. Ia pro colégio assim mesmo. Ia na beirada da calçada, parte do pé pra cima no chão, a do dedo no vão, andava assim com pé aberto. Parecia um pinguim.



Mas aprendi a lidar com isso.Assim equilibramos o jogo. 



Tempestades e Turbulências


Só que quando do nada veio o diagnóstico de artrose, me senti traído. Era como mudar as regras do jogo no meio da partida. 





  As hemorragias começam quase sem sintoma, a dor vem a medida que o sangue vai acumulando - se bater o pé na quina, daqui uns 10 minutos vou pressentir a hemorragia, sem sintoma, apenas sinto. Daí uns 30 minutos sinto uma resistência, como um peso pra mecher  a articulação.  Então começa a dor que aumenta gradativa. Duas a três horas depois dificuldade de andar até não conseguir andar. 




 Mas naquele dia, perdi a força do pé do nada, só não cai porque a professora me segurou. Mas em seguida voltou ao normal do nada. Dois dias depois tava deitado na rede, fui levantar o pé doeu forte quando pisei, cai sentado de volta na rede. Tive de ir chiando no chão pro quarto. Mas voltou ao normal no dia seguinte. 


  Tudo diferente do que eu estava acostumado.
Programamos ir a Hemominas na outra semana. Mas a noite travou geral o tornozelo, dor terrível. Ia viajar de madrugada. Fui assim mesmo. Pulando num pé só segurando nos móveis até o carro. Do carro até a rampa de acesso à rodoviária, acredite, Deus prepara tudo. Até  rodoviária aqui parece feita pras minhas viagens.


Meu pai ajudou a entrar no ônibus. Em BH foi difícil. 15 metros até o táxi, pareceu 1 km. Apoiado no meu pai é na minha mãe e o taxista viu a dificuldade e veio ajudar. Na Hemominas desci na cadeira de rodas.
A fisiatra suspeitou mas não falou. Imobilizou com uma tala que me ajudou a andar. Mas ficamos em BH, ia ser difícil viajar.


Marcou raio-x, que fiz na outra semana, na minha cidade mesmo. Nem esperamos ir em BH, fomos em um hospital da cidade vizinha que tem mais recurso. Um ortopedista e um hematologista.  Se olharam com aquelas caras, após verem  o exame. O diagnostico, artrose. Disseram seco, as dores vão piorar, vai ter crises de dor frequente. A minha articulação ia se desfazendo, disseram . Era dia do meu aniversário. Foi um presente de grego. 




 Sempre nos filmes os médicos falam que vão tem uma boa e uma má notícia. Pra mim a boa não veio, pelo menos ali.    Mas depois de um período de muitas crises, quase 3 por mês no período de um ano, fui me reencontrando. Do medo e muitas dores e dúvidas pra determinação de virar o jogo. Aquela crise fortaleceu minha fé. 


Dando A Volta Por Cima

Fui reprovado na quarta seria porque tive muita hemartros e. E agora de novo na sétima série pela artrose. Recuperei no ano seguinte, não só nos estudos. Fiz muita fisioterapia, usei homeopatia, meditação, e até Yoga. Sempre anotei tudo sobre  minha saúde e às intercorrências, e agora as crises, mas tentando que os intervalos entre elas acontecesse. 



E graças a Deus foi diminuindo. 
Renascer como fênix. 

As coisas pareciam melhorar, depois de um ano de muita dor e da Tia Artrose vencendo, comecei a doma-la. Repeti a sétima série, agora mais um ano terminando, eu ia pra oitava série, as crises de artrose diminuíram muito, 6 meses de trégua, um recorde. A oitava série, a expectativa de ir pro segundo grau em um colégio maior, as coisas pareciam tranquilas... mas dona hemofilia já tinha preparado o presente de natal...





Mas Isso É Outra História...

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